terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Saiu do banho gelado, mas a pele estava lisa e quente como uma cobra recém saída do sol. Essa sensação não lhe era incomum, pois estava acostumada com aquela condição. Da janela via o azul de petróleo virar turquesa anil, o espectro de luz fazia fragmentava as cores do copo, já vazio, trazendo imagens, meras miragens, acabando por mostrar, de forma embasada, o futuro. Ela vendo o futuro. Certamente, aquela visão não era aquilo que quiz, principalmente naquele ambiente sem luz elétrica presente (somente a da janela), cheiro de mirra e cortinas de chita; todavia, diante da insonia: qualquer coisa valia, nas tentativas de sobreviver.
Fez as coisas do cotidiano, vestiu a blusa de seda negra, pôs seus anéis, pulseiras e o manto invisível de perfume, estava quase pronta. Ensaiou um sotaque francês, sorriu. A maquiagem lhe trazia uma aura mística e lasciva e, esse efeito era o que desejava. Outro sorriso, fechou a porta silenciosamente. Era muito cedo quando ganhou a rua, os cães vadios vagavam e, as igrejas, mais vazias do que de costume, pareciam arder no inferno diante de tantas velas oferecidas aos santos naquele final de ano, apenas outras formas de negociar o amanhã, sem pensar nas atitudes de agora.
Deus, me ilumina como uma vela na escuridão para que eu consiga fazer o necessário, pensou. Seguiu adiante - enquanto, as ceras terminavam e extinguiam-se, agora só restos carbonizados de pedidos entregues ao além -, brilho do seu olhar seguiu incandescente. Não era certo deixar nas mãos do invisível, nem parecia viável, ao mesmo tempo, negá-lo parecia impossível. Afinal, fazia tempo que vira seu caminhos, sempre acabou vendo o futuro, seja nas cartas, nos rastros,mãos, nos olhares perdidos dos que vinham procurar respostas ou as cores do espectro. Naquelas situações, era tudo como uma costura, ia tecendo, desvendando os processos, como não sabia. Fizera de sua maldição o seu trabalho, sua obrigação, sem ela nada seria, a sobrevivência. Vendendo o futuro, sobrevivia, acendendo ou carbonizando esperanças, pisando em falso no invisível.
Chegou no seu escritório (se é que se pode chamar assim), disse bom dia à secretária. A primeira consulta seria por volta das 7h:30min com uma moça. Com certeza não demoraria a chegar, muito mais atraída pelo receio e sensações de aventura daquilo que a cartomante lhe falaria, perguntaria de seus amores, profissão, familia, quando morreria, os clássicos de sempre, sempre as mesmas questões só mudando as palavras e o enfoque, logo as iguais ilusões, ambições e tragédias; sugando-a por respostas que esta não pode dar e, ainda, pode errar, afinal, se os horizontes do hoje são metamorfoses, os de amanhã são resultados. Quando iriam entender? As pessoas costumam ser bastante omissas, pensou.
A moça entrou no cômodo, ambas trocaram algumas palavras. Os arcanos diziam muito, mas a outra preferiu não dizer tudo, pois, as vezes, é melhor não saber. Acabou  por deixar a menina curiosa. Então, como resposta às questões: - não há mais nada além? Disse: - Isso descobrirás, contudo acredite, as coisas que virão conseguirás enfrentar.
A moça saiu satisfeita, a cartomante ficou sentada, remoendo-se por ter tido algo tão óbvio e de quinta categoria, fez o necessário, nada mais; embora, não tenha visto nada dessa vez. Estava se perdendo, carbonizando lentamente. Os dons atrofiados, como previra nas luzes do copo. Vendo, vendendo, sobrevivendo, incandescendo, omitindo de si mesma seu futuro.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009




A cúmulos nimbos trazia a guerra eminente dos céus (primeiro prata, depois negra), por trás dos olhos de vidro transparte da janela, ela já percebia as gotas precipitadas as quais haveriam de cair, cedo ou tarde. A fumaça da bebida quente(velho hábito incrustrado na carne) embaçava os olhos, seriam turvos de vapor somente? Não sabia, podia ser o mormaço,honestamente, nem queria; naquela hora nada era inteiro, nem metade, eram quartos? Ou quartas? Sabia que era quinta, porque era dia de semana, tinha acordado cedo. Arrumara-se, guerriou pelo mundo, depois voltou para casa. Lá estava, de compania: seus pecados que vinham de arrasto e sua carcaça de plástico. Imóvel.
Ouviu o primeiro pingo, outro, outro... outro, sobre a laje. Outro sobre a mesa; em seus pés. Sorte que a carcaça era impermeável, já calejada (assim acreditara tantas vezes, na luta pela sobrevivência, mas isso não lhe bastava: era pouco, quase nada. Um antidoto, um veneno diluído em litros d'água). Outro sobre a cabeça, mãos, pés, cabelos, resolveu pegar alguns baldes, bacias, potes de sorvete ou panos grossos.E lá se foi, quando voltou: tudo pingado, um barulho insuportável, tudo destacava o cheiro de mofado. Mais uma vez, suspiro, a armadura é impermeável, mas não indestrutível. Ruiu. E na falta de sustentação seu corpo machucado se fez torno, olhando as fotos e tocos de alucinógenos invisíveis que apagavam. No dilúvio: tudo era deserto. Caminhou até a janela, caminhar nas areias d'água não era fácil, as roupas atrapalhavam.
Tiro-as todas, exibindo particularmente o corpo todo. Nas lentes de vidro, viu aquilo que escorria entre as vidraças e protegendo-se das tempestades de areia volátil correu para o pátio. Dançando alguma música que inventara nos quartos de minuto os quais nem sabia mais, lavava-se, mas os pecados ainda ficavam de arrasto (jamais sairiam, eram cicatrizes cravadas, latejantes), logo se fazia simples mortal de um reino qualquer, era um servo, servo da chuva, um grão de areia no mar.
Se fosse final de semana, não saberia as horas, se fosse dia de semana se contentaria com o saber dos minutos, mas não - era feriado. Não era tão simples assim.


quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

As verdes luzes, não de pedra, que antes não via.

As esferas da rua iluminavam-se, trocando suas cores primárias, exceto uma. Saíam pessoas por todos os lados, alguns carregavam sacolas lotadas de produtos industrializados (os quais nem se consegue mencionar os componentes), outros abstraíam-se. Eu permanecia em pé, na minha frente: uma criança de órbitas de avelã, uma flor no reino das pedras. O barulho da cordinha tornou-se audível, acendeu-se a luz vermelha. Desci, eu e mais outros tantos, caminhavamos, perfeitamente doutrinados.
O cheiro de churrasquinho emanava, sentia todos os barulhos, os quais pesavam o ar. Os instintos excitados pelo dia anterior. Um grito de dor em meio ao caos, era um cachorro que acabara de receber um ponta pé. Levantei a cabeça, mais tristeza do que indignação. Onde vamos parar? Se nas aparências coração nenhum mais bate, todos comprados pelas aparências reluzentes, idolatradores de metais e sucatas que correm; enquanto, a vida morre.  Mas diante dele show de horrores, calei-me, mesmo diante da revolta engolida (não sentia gosto algum). A terceira esfera ficou verde, um desafio às outras cores primárias: o vermelho e amarelo.  Novamente, mais uma flor em meio às pedras.
Continuei lendo Garcia Marquez, um falso efeito placebo em meio ao tumulto, esperando uma daquelas sucatas caminhantes. Ouvindo conversas disconexas, um verdadeiro precipício entre a ficção da menina que enlouquecia pela raiva (no livro) e as bizarrices daquelas pessoas, aparentemente tão tolas na sua selvageria, era culpadas pelas sua condição? A vida deu-lhes opção? Ou tola eu?
Outro sinal verde, vermelho, verde, amarelo... Ventava, um sinal sem jeito, o ônibus parou. Respirei alíviada, acabara o show - naquele instante. Meus olhos precipitaram, era salgado. Água imprópria para flores, na ficção a menina coxa entreva para a ala das enterradas vivas, eu ali, observada como algo contagioso no meio da epidemia de insensibilidade, difarçava, escondendo-me no meio das letras e da capa roxa. Fungei, lembrou-me os escarros de minutos atrás, levantei a cabeça. Observei tudo, parecendo que eu não via nada, só meu deserto.Calei-me, para ver de verdade, os verdes que antes não via.
Desci, caminhei alguns metros. Chegando rápido ao meu destinho, sendo favorecida pelas luzes verdes.  No recinto: um copo plástico, café quente. Estava atrasada e arrasada. Que cara é essa? - perguntou-me os olhos azuis.
- Nada. Só cansaço.
- Senta aí! E abre o livro, recém começamos. Como foi o fim de semana?
- Ótimo, bastante revelador por sinal.
Olhos azuis riram.  Sorri de canto de boca, fingindo prestar atenção nas letras, as quais no momento não me serviam de abrigo. Respirei fundo, aparentando ser uma fortaleza sustentada em pântano.
Será que eu estava virando pedra?  

sábado, 5 de dezembro de 2009

Cavaleiro da Chuva

O sol das 17h batia, demais parecido com o do meio-dia,  insolava a cabaça. Sem óculos escuros, aqueles raios ultravioletas (que de violetas nada tinham) faziam os olhos contrairem-se, maldita espera, merda de parada de ônibus e uma feia pagando de gostosa.  Mormaço dava a sensação de ondas invisíveis, cheiro de pão d'água, graxa e peles. Sentei-me no meio fio, tudo tedioso - afinal: trivial demais.
Os pingos de suor diziam os segundos, uma garrafa de líquido trazia alívio e a mente vazia trazia tudo a flor da pele. Pele? Intensifica-se o cheiro delas, já não são mais aperências, são carmas e darmas. Na hora tanto fazia, quando um senhor passou a pé. Era cego, não possuia labrador, nem cusco andante, ou vara decente - parecia mais uma bengala de alumínio, comprada no R$ 1,99; contudo, caminhava confiante no sol, diante daquelas pessoas, na sua aparência simples e desgrenhada tinha tudo para ser mais um covarde, ele demonstrava o oposto, autosuficiência, obstinação, duvido que imaginava moinhos de vento, mas no negrume no qual vive, vislumbra além, naquele momento, parecia um cavaleiro da chuva. Admirei-o, enquanto seguia seu caminho, desafiando os abismos de cinco centímetros entre a calçada e a rua e os labirintos feitos pelas macumbas da encruzilhadas. Fiquei lá, sentado, imprestável, nem para fumar eu servia.
Sinal para o ônibus, daqui a 30 minutos o conforto do lar, e sem sinal de chuva surreal. Novamente o cheiro de peles, muitas outras. Será que conseguiram sentir as revoluções cuja pulsação emanava de mim? Ou eu estava louco? Comprindo carmas? Darmas por mais alguns passos longe da conformação por ser mais um fodido (cego, surdo e mudo  - tal qual aqueles macacos das histórias antigas que ninguém mais lembra, só sabem que são estátuas bonitas em uma casa contemporânea), sentindo os aromas de epidermes - não de flores. Podia ouvir as explosões, os terrores de dentro para fora e a música da novela: "Você não vale nada, mas eu gosto de você, tudo que eu queria era saber por quê", de fato, tudo que necessitava era de uma trilha sonora, mais um penduricalho enfeitando, novamente outra constação: não valho nada. Tudo que precisava era de coragem, algum vagalume para iluminar a escuridão e um cão andaluza para dar uma leve ironia.
Céus! Não choveu ainda? Respirei fundo, ensaiei sorrisos (felizmente, nenhum dente faltava), vi o portão. Meus pensamentos sobre o cavaleiro e toda sua chuva não haviam me abandonado, uma notícia boa, pois não queria calar-me. Pisei na grama, não eram flores, mas serviam ao prósito. Amanhã seria diferente, "amanhã há de ser outro dia, você vai ter que ver, a manhã renascer e  esbanjar poesia"  fazia mais sentido. Um pingo, dois, três, desabou. Era chuva, não me faltava nada, nem coragem. Por dentro: rouco e machucado. Por fora: intacto; sorria. Sentido a flor da pele, aquilo que fora acordado. Quebrei os três macacos de minha sala, ordenei-me cavaleiro. Chovia, chovia, tudo se alagava. Era o início; não o fim.
Instigara os sentidos, agora uma questão de tempo.


 


segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Sorvi o ar gelado, coloquei os pulmões para fora, através de um grito rouco. Junto com ele, todos os nós se foram junto. Fez-se exposto o óbvio: a luta, então veio de arrasto a esperança, angústia e a loucura.
Tarde demais para perder, cedo para vitória; como um pecado ainda não feito - não totalmente inocente, mas nem no seu todo efetivado. Uma situação de encruzilhada, a qual todas as cartomantes ficariam em dúvida, sem saber que decisão tomar e a vida tentando empurrar-me para alguma direção (velho dilema "viva deixe... viver"). Uma decisão, uma oportunidade de possuir a liberdade no seu estágio bruto, sem escravizar-se, regido pelas paixões ou razões.

Sem esperar a gota d'água; a última luz apagar. Viva, não deixe viver.

SIM! ESTOU EXTREMAMENTE INTIMISTA NA ÚLTIMA SEMANA! dá um time! AHAHAHA.

"A primeira vez que o telefone tocou, ele não se moveu. Continuou sentado sobre a velha almofada amarela, cheia de pastoras desbotadas com coroas de flores nas mãos. As vibrações coloridas da televisão sem som faziam a sala tremer e flutuar, empalidecida pelo bordô mortiço da cor de luxe de um filme antigo qualquer. Quando o telefone tocou pela segunda vez ele estava tentando lembrar se o nome daquela melodia meio arranhada e lentíssima que vinha da outra sala seria mesmo “Desespero agradável” ou “Por um desespero agradável”. De qualquer forma, pensou, desespero. E agradável."
Caio F.


sábado, 14 de novembro de 2009

LIBERTANDO MONSTROS.

“O sol se pôs roxo, dourado e tons sanguíneos, todas situações anteriores deixavam a cena ainda mais bela, porém mais cruel. A emoção saia dos poros, a cara fadigada falava por si. A Dama das Camélias fora queimada poucos minutos antes, junto com alguns escritos da fala oral. Não possuía mais álibis convincentes, ultrapassará as linhas do limite, enfim: a eminência. Fazer requeria mais força do que jamais imaginara, mas a única diferença daquele momento: não havia fugas. Era sua realidade, tal qual uma luz em um prisma – antes uma só cor, agora múltiplas – entretanto, muito menos poética, mais amarga.

Nas suas conversões deixou tudo de lado, soltou o monstro que lá habitava, pois por que se omitir de tal forma? Um sorriso de escárnio para o momento, palavras enroladas – adstringentes a boca – e uma camisa de força invisível.
Os olhos já brilhantes, sem opções. Libertada, por fim. Não leve, mas livre.”

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Não existe imparcialidade total, ou seja, em cima do muro é impossível ficar. Sempre haverá tendência para algum lado e, através disso, chega-se a conclusão: quem vive não fica em cima do muro (simplesmente olhando a banda, as bombas ou a fumaça subir), escolhe; portanto, deixando de ser menos escravo da indiferença e apatia. Essas escolhas geram seleções e funcionam como sementes para o pensamento (direcionado ou não, todavia qual pensamento não é direcionado pela fonte? Afinal, imparcialidade total não existe), logo acaba-se por tomar partido de um dos lados e, por fim, ditar, no  mínimo, 80% dos rumos da vida.
Sempre se tem por objetivo ser senhor do próprio nariz, possuir autosuficiência, bens materiais e "por tabela" felicidade. Então, como na primeira chance de provar isso, fracassa-se ridiculamente? Abaixando a cabeça para contradições absurdas (sobre sonhos, amor, fraternidade,moral...), cedendo às hipocrisias, indo de arrasto com a marcha da massa, deixando-se empurrar para qualquer lado do muro, permanecendo do lado de quem empurrou mais forte ou pareceu mais cômodo, enquanto alguém precisa de ajuda ou a outra parte grita, ecoa e atormenta: Isso não é certo.
Ceder é muito fácil, díficil é resistir. Para, enfim, ser dono de si mesmo.


Perdoem meu português, quando escrevo rápido e não tenho tempo de revisar, sai tudo meio rengo.


" Não estou para poemas,
nem eles estão para mim.
Preferem outros tantos,
mas eu persisto em querê-los
quando acho que os arrebato (vulgares tentativas)
explodem nessa cabeça vazia
tomates podres (jogados ao péssimos)"


Obs.: Ah, vamos ver Alice no País das Maravilhas? :D Entupir nossas vidas de fantasia?



quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Palavras clichês, remodelação dos clássicos, vanguarda: minha garganta não está fechada.



Por que Duchamp? Não é apenas porque a obra dele é "legal", é muito mais do que isso. Ele, assim como muitos outros vanguardistas da época, desafiou os padrões estéticos, os ideais de belo no início do século XX, não possuía apenas talento, ele ia além: CONTESTAVA. Não através de panelaços, lançamentos de tomates a governadora ou greve. Por meio da arte, quebrou as correntes dos pré-moldados métodos. A obra pode parecer absurda, mas não é um direito expressar-se, transgredir os pensamentos e ter liberdade para isso, por mais absurdo que as ideias pareçam?

É um direito, uma obrigação, não se subordinar a tudo (desde a vulgaridade da TV; ao mau tratamento recebido em qualquer instituição; a corrupção política, etc), ou seja, não se calar diante da sensação de "não vai dar nada", onde os maiores pisam nos menores, nessa selva de pedra - de merda - a qual se vive. Deixando as gargantas fechadas pelo medo, ficando então simplesmente dominado por um sistema cujas diretrizes são bonitas apenas no papel.

Todas essas palavras, repetidas inúmeras vezes, hoje são praticamente decoradas, mas pior que servem! Continuarão sempre servindo (é assim desde as primeiras revoltas conhecidas, nas primeiras revoluções efetivas as quais gritava-se por igualdade, educação, justiça e o caralho). Onde estão os gritos, onde estão os clichês que no momento têm utilidade de "pretinho básico"? Tapam-se os olhos, as bocas, os ouvidos. Cegos, mudos, surdos, nem ao menos vegetais - afinal, vegetais possuem sua utilidade no ecossistema.

Abrir os olhos, ouvidos e a boca. Abrir os horizontes, respeitando quem deseja falar, não fazendo piada de quem ao menos tenta, mesmo sem fundamento ou argumento consistente, transformar o ambiente que vive. Pois, para isso é necessário coragem, misturada com inconformismo, expressão e liberdade, a fim de se gerar ação. Esse é o início da revolução, das transformações: de dentro para fora.

DEPOIS DE TUDO ISSO, POR ENQUANTO, ME CALO!

"se antes de cada ato nosso nos puséssemos a prever todas as conseqüências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar. Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, inclusive aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratular-nos ou pedir perdão, aliás, há quem diga que isso é que é a imortalidade de que se tanto fala." - José Saramago.





sábado, 31 de outubro de 2009

10:50


Não é apenas impressão, faz mais de duas semanas que eu não escrevo, e o post escrito ontem não sei onde coloquei, da mesma forma como a cena de terça. Minha professora de redação, a menos de 24horas atrás, disse-me que a prática da escrita levava ao aperfeiçoamento (ou, quem sabe, a uma obra prima. Diante disso meus olhos brilham, penso: por que não começar?)


Antes de seguer pensar nas falas ácidas, pedaços abstratos de corações sangrados, nos contrastes absurdos da vida, no sépia (por consequência, no colorido de ontem o qual já se desbota e no breu cujas poucas cores vão fosforescendo) e nas canções escutadas, há algo, ocorrido agora em minha cabeça, mais urgente: adorar adjetivos, céu, uma situação bizarra e revoluções instantâneas.



" Eram 21h:30min de terça-feira, horário de verão, passando de carro, via somente as luzes dos postes das rua, desejando não estar ali, mas sim em casa. Olhei para direita, enxerguei algo inimaginável até aquele segundo: um homem, vestido de cores escuras, consumindo-se nos ócios da espera, sentado em cima de um pneu de bicicleta (faltou apenas o cão andaluza)! Continuei revivendo esse acontecimento, foi como uma fisura no meu universo comum, porque do normal, faz-se, instaneamente, a loucura (perdida em mim) a qual tanto procurava.


Resolvi então fazer minhas revoluções, perdoem o uso excessivo do adjetivo, instâneas. Era tempo de mudanças, morangos e ameixas (observe a influência de Caio F.); sair das cegueiras e dos comportamentos premeditados e óbvios, eu precisava reencontrar-me, portanto; aqui estou monstro e fada, todas as fantasias e falas cruas desse momento. Somente o céu (do chão e do alto) sobre minha cabeça: cinzento; cor-de-chocolate; azul neon; sempre transitório, inconstante, brilhante/opaco - sem nunca, contudo; perde-se no processo.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009


Traumatizei-me, pois descobri que maçãs e morangos não são frutos, mas, sim, pseudo-frutos. Bananas não possuem sementes e micuí não existe (é entidade)! Estava extremamente feliz com minha ignorância botânica, agora o que direi quando meu pai perguntar-me: - Filha, quais frutas tu queres? - responderei: - Não quero frutas; pseudo-frutos! Quem irá me entender?


" A menina acordou atrasada, sem tempo para o desjejum. Pegou, na correria, uma banana da fruteira, olhou o rádio-relógio (tocava Caetano Veloso: "(...) e agora que faço da vida sem você, você não me ensinou a te escuquecer(...)". Deixando a cena digna de cortar os pulsos com bolacha maria - QUE DECADÊNCIA!) que assinalava 7h:55min. O onibus passava as 8h, de tão apressada, a menina, correu, correu, esquecendo-se de comer a banana. Suada, os cabelos lanhados, ofegante, babana sempre a mão, disse ao cobrador: - Mínima, por favor?


Todos olhavam-na e, ela não conseguia passar na rola com seu cartão, na verdade a banana. Quando se deu conta, estava escarlate, ah se fosse um avestruz. Alguém falou: - Guria, essa banana dá pro gasto, mas pelo jeito não tá servindo pra nada, nem pra pagar passagem! Tá pior que lá em casa, hein!

Era ninguém mais, ninguém menos que a velhinha, sua vizinha a qual na semana passada, havia pedido-lhe pilhas."


Cedo ou tarde, é uma questão de concepção, assim como "o para sempre". Para alguns apenas o momento, luz ou escuridão. Muitos paradoxos e contradições, renovando-se eternamente, lembrando-se: há de parar, quando tudo estinguir, virar pó, (re)nascer ou criar-se. O fato é: início de um, final de outro, logo a eternidade de ambos, nos "para sempre" dos tempos.


BOM RESTO DE SEXTA E ÓTIMO FIM DE SEMANA. E SIM: AMARREM MEUS DEDOS PARA NÃO ESCREVER TANTA BOBAGEM!


terça-feira, 13 de outubro de 2009


Das memórias vivas, experiências em comprimidos: passado, presente, inferno, paraíso e algumas citações de terceiros fazem a vida mais poética (diante de tantos venenos).
Tudo está passando muitíssimo rápido, grande novidade, Outubro está aqui (até aniversário estou fazendo), Dezembro chegando cada vez mais perto e diversas histórias paralelas acontecendo. Como a da mulher que se envolveu com o chefe, a criança que foi atropelada pelo Viamão lotado, alguns virando alface - outros nascendo dela.
O ciclo das existências se completando e, eu cá filosofando, pagando de "pseudo-intelectual". AH!FALA SÉRIO!


Criatividade passou longe, assim como a gramática. Qual seria, por hoje, a concepção de pé da letra? O.O


"Parabéns a você nessa data querida, sinto muito estou de partida. Me disseram que é bom mudar, mas eu não sei por onde começar. Por uma noite inteira, serei seu´. É foda. Não ligue pro que vão dizer o Jet-Set que vai se fuder." Bidê ou Balde - Microondas

domingo, 4 de outubro de 2009

Resolvi escrever, pois daqui a pouco irei dar uma volta no pátio. Lógico: depois estudarei.
  • graças a Deus a chuva passou (por enquanto);
  • o ENEM foi adiado, gerando mais tempo para estudar e tive a oportunidade de fazer algumas questões da prova - as quais não achei de grande dificuldade: eram óbvias e super acessíveis. Isso põem em cheque a seguinte questão: como decidir as vagas para cursos muito concorridos através do ENEM? Certamente quem está se preparando para vestibulares concorridos, por exemplo: Fuvest; UFRGS, UnB; UNICAMP, UFMG... irá muitíssimo bem, logo as vagas serão decidas por décimos (até menos). A competição será alta, para se destacar deve-se quase (ou) gabaritar. Quem sai prejudicado é o aluno da escola pública que tem diversos déficits e poucas condições de competir igualmente com o estudante de colégios particulares e cursinhos fortes,todavia, aqueles que se dedicarem terão grandes chances no programa ProUni;
  • a prova ser fraudada não me surpreende, nem a ninguém. O Brasil é, de fato, o páis do jeitinho, da impunidade, de alguém sempre querendo retirar vantagem... Ok, de pessoas trabalhadoras, honestas também! Entretanto, ele se destaca por suas fraquezas e desleixos constantes.
  • Agora só em Novembro!

"Tenho poesias para todas as horas na

terça-feira, 22 de setembro de 2009


Isto aqui está com teias de aranhas, irei retirá-las.

Hoje, enquanto os Ipês roxos floresciam, e a velha japonesa usava chinelas confortáveis para seus pés cansados, afagando um cão ordinário. Uma cena de belezas e sutilezas relativas. Lá estava ela: demonstrar toda a sua humanidade e capacidade de disseminar amor naquele simples gesto - humano, belo e triste. Será que essa nova primavera (repleta de pólen, flores, verde e calor) irá ser diferente?


Eu estou longe de saber disso, contudo a curiosidade sobre essa mulher: fisgou-me. Por onde andas? Com quem vives? Apanha do marido? Será que o companheiro está vivo? Quantos filhos? Todos legítimos ou bastardos? Foi Maria Clara na vida passada?Enfim, a imaginação passava pelos neurônios de forma vertiginosa. Infelizmente, meu caro, jamais saberei. Assim como inúmeras outras coisas. Mas desejo que ela encontre o conforto que buscava naquele gesto simples o qual é,por muitos, recriminado por nojo e falta de sensibilidade.


Tomarei meus chás mais tarde - algumas doses. Gui, malabarista exotique, muita saudade. Estou acompanhando teu trabalho de longe, torcendo por ti sempre! E a Dulcinéia meus alôs marcianos e bananas. Estudar forças e termoquímica e pontuação (para ver se eu melhoro essa balburdia).



"Isso mesmo. E virão outros e muitos outros (imensamente grandes e pequenos).
Se tua fé não alcanças e chegas a duvidar, não enxergas a verdade, esquecestes. Não é a toa que caminhas por este caos. A primeira guerra passou, a segunda guerra passou, mas a terceira já foi escrita. Em meio a essa chuva canto e danço com os lobos, todos meus inimigos íntimos. Se duvidas chama por Ele e nada te faltará. Os delicados preferem silenciar, o tempo presente é agudo, não passa reprise. Acerte da primeira vez: seja humano, como todos nós"


CARALHO. AINDA SEI DE COR.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Quando penso onde isso vai dar, surge-me a clareza de que não sei. Então, aparece no piscar um descontrole acalmado (por algo o qual não sei explicar), fica subentendido, digamos: um entorpecido fantasma transparente presente. Mas isso não é novo, é apenas mais uma dose, uma rotina ou uma respiração. O maldito suspense inevitável.
"Eu olhei o entardecer, mais um momento de pura nostalgia, algumas reflexões. Ainda hoje, subi na goiabeira, onde fazia todas as minhas estripulias de criança, lembrei dos tempos passados, agora, simples retratos em sépia. Fui a cartomantes e videntes, jogando fora todas as minhas convicções, na esperança de resolver meus medos e desesperos desse mundo, sem sucesso. Então olhei para o céu noturno, estiquei minhas mãos para pegá-lo, tão longe, tão perto que pude sentir. Coisa óbvia e sonho. Num piscar a estrela passou, pedi. Apagou. E nesse momento, deveria ter acendido um cigarro, apenas para ficar com clima de filme, seria engraçado, mas não fumo. Solto uma risada de canto de boca, aquela a qual só eu podia ouvir e, a solidão, minha companheira, não me ofereceu reação alguma. Deveria preocupar-me com isso? Afinal, é na complexidade das coisas, que se percebe: a felicidade é algo simples e, no concreto dos fatos terrenos percebe-se: a vida é uma casa de vento, sonho é a sua forma, a paixão sua matriz, a dor sua fortificação, o coração lápida e a mente seu esquadro, lápis e borracha."

domingo, 30 de agosto de 2009

CARTA 1


Escrevo, tomo chimarrão. Nessa manhã ensolarada de domingo, faço os planos da tarde, pois a manhã já se esvai. Li algumas reportagem sobre: a política do Brasil, as desgraças as quais ocorreram ontem (alguns mortos, diversos feridos ou salvos, no entanto todos machucados pelas circunstâncias caóticas do dia-a-dia), novas armas atômicas, IPI reduzido e a previsão do tempo.
Lido isso, penso nas consequências. Esboço uma carta para Dulcinéia Napolina III:
"Aqui, minha flor, a coisa está feia. Eu achando que aqui veria mulheres com os peitos de fora (lotados
de purpurina), vejo vários atirados por aí, as traças, esperando demais para que alguém faça algo por eles. Rápidos apenas nas palavras, mas nas ações a inércia permanece a mesma, porque o individualismo, ignorância, medo e impunidade reinam. Esse horror silencioso, lembra-me o livro do José Saramago (Ensaio sobre a
Cegueira): os malvados reinam, enquanto os bons subjulgam-se, custando a rebelarem-se, indo além dos xingamentos aos desgraçados.
Perguntei a um vivente:
- o que ocorre
aqui?
Ele respondeu:
- sempre foi assim, não se assuste. Pois um dia Brasília pegará fogo, a Terra há de comer seus destroços, comprovando a esperança brasileira.
- como pegará fogo? - perguntei de novo.
- Só Deus sabe, amigo.
Dulcinéia, a questão é que nem tudo está nas mãos de Deus. A maioria está na dos homens, estando eles de mãos atadas ou não. E não preciso viajar milhas e milhas para se chegar a essa conclusão, a muito tempo já dita por vários.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

poisé, meu galo, a coisa está ficando feia. 4! (não fatorial). Os posts vão ficar cada vez menos frequentes (ahahahah! como se alguém visse-os). Nenhuma vertigem filosófica, apenas uma dissertação. Muitíssimas coisas para fazer. Vou-me.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009


Adoro o nascer do sol, ele me dá esperança. Uma sensação de renovação e novas possibilidades, mas também muitas saudades. A forma de "interpretar" o nascer do sol varia conforme cada um. alguns apenas admiram a beleza e cores, outros filosofam ou veem alguma grandeza de Deus. Como disse: varia de alma para alma.


Ontem tive problemas com a internet. Não consegui atualiza-lá, quis atirar meu computador pela janela ou fazer uma fogueira :} Por sorte ou azar. Salvei algo de ontem. Estou "vazia de fontes criativas" agora. Amanhã quem sabe outro nascer, outro dia.



Pensei em palavras para uma oratória que deixasse sem contrargumento algum, sem possibilidades para réplica e treplica. Mas tudo que eu queria era despejar todas as palavras acres, sem parar para respirar. Simplesmente confessar-me. Fugir do ócio premeditado de todos os dias, as mesmas sistemáticas. E nessas e outras, a verdade é que estou cansada dessa vida fodida a qual me azeda, onde nas primeiras chances, tenho esperanças (alucinações) cuja veridicidade duvido. Tudo igual, tudo denovo.
Formas anacrônicas permanecem, ficam apenas algumas tentativas. O meu consolo é que minhas alucinações geram-me coragem, desta forma consigo seguir adiante. Afinal: o pior castigo seria permanecer, perdendo, então, certamente, a esperança que me mantém de pé. E a loucura que faz tudo isso parecer mais complicado, mais estranho, menos calado, mais real :D




Trilha de hoje: Será - Legião Urbana!


Tire suas mãos de mim,

Eu não pertenço a você,

Não é me dominando assim,

Que você vai me entender

Eu posso estar sozinho,

Mas eu sei muito bem aonde estou,

Você pode até duvidar

Acho que isso não é amor

Será só imaginação?

Será que nada vai acontecer?

Será que é tudo isso em vão?

Será que vamos conseguir vencer?

quarta-feira, 19 de agosto de 2009



Enquanto pensava em todos os acontecimentos, meus pensamentos bons travavam guerra com a minha podridão particular, todas as ideologias, dores e alegrias. Tudo isso emoldurado por um céu azul brigadeiro, eu conseguia ouvir os bombardeios, os corpos dilacerados. Vontade simples de virar-me do avesso, encontrar a parte (ou melhor aquela coisa, pois parte, para mim, é um osso, uma carne - estas, tenho de sobra), embalada pela música. Soldados de primeira linha não ouvem música, penso, mas enxergam sua casa, sua mulher, seus pais e filhos; a glória do retorno, a medalha de ouro, a homenagem e promoção por serviços prestados,afim de superar seus temores, seus olhos cegos por explosões, seus corações machucados e corpo desesperado (remendado pelas putas e fotos em sépia). Resta, simplesmente, aquilo que vem de dentro, a ilusão, esperanças e o fuzil na mão. Atirando balas, como atirei meus demônios e frustrações pela janela, ricotiaram ao vento, morreram atingidos nos peitos. Mais um tiro, um passo. Uma mina. E a tão sonhada liberdade. Liberdade? Quem não é escravo de si próprio?

Nessas de ser “diferente”, ter ideias fantásticas e fazer todo mundo babar pela minha escrita, acabei me fudendo. Errei todas as colocações, regências, ortografias, nexos e afins. Por eliminação das alternativas acima, restou-me o desastre, algumas reflexões e a vontade de pular da primeira ponte que eu visse, em Viamão.
Estava diante da minha falta de talento, desejei então (com todas as partes –mortas ou vivas- de meu corpo) transformar-me em um poeta ultra-romântico o qual enche a cara de absinto e escreve versos bonitos, com Bethania tocando “Fera Ferida” ao fundo, óbvio.
Após a crise de “piti”, não consegui escrever mais nada. Deixei Sócrates revirando-se no túmulo (em paz).
Por enquanto encho meus copos com água, começo o segundo semestre. Nada de mais, nada de menos. Faltam apenas 4 meses. É tempo de entrincheirar-se nos livros, fazer exercícios medonhos, dormir pouco, porque nada cai do céu, só a precipitação.


14h:40min, estou atrasada e vendo uma pontinha de sol da janela. Tô indo, já fui.

domingo, 16 de agosto de 2009


Hoje tive um vislumbre de um mundo novo, com outros jeitos e esperanças. As cores do entardecer mais vivas, mais reais e dias menos mortos. Outros amanheceres, pensamentos, insanidades, inconstâncias e chances. Tudo isso enquanto o vento batia no rosto. E num gesto, levanto as mãos para cima para, simplesmente, tentar alcançar o céu e sentir, na carne, as nuvens de algodão.
De repente distraio-me. Mochila nas costas, vento quente, ônibus lotado, uma trilha sonora imaginária guiando a jornada. Desço. Chego à realidade, entretanto suspiro (a fantasia chegou ao seu final temporário). Estou ciente diante disso tudo (em todas as suas vertentes, anexos, etc): mais do que promessas, expressões são necessárias, a fim de transformar a fantasia em realidade, superar os vícios. Porque o real, ao contrário do mundo de sonhos, não necessita apenas do pensamento. Ele pede por algo além, um levantar e puxar de mãos, gotas de suor e lágrimas, alguns caminhos solitários, todos os pensamentos sendo utilizados pelo cérebro (gerando impulsos nervosos), para transformar na carne, ou seja, em vida, os desejos da alma.
"- Traga fundo. E solta a fumaça quase sem respirar. - Foi então que vi aquelas ameixas e achei tão bonitas e tão vermelhas que pedi um quilo e era minha última grana certo porque meus pais não me dão nada e daí eu pensei assim se comprar essas ameixas agora vou ter que voltar a pé para casa mas que importa volto a pé mesmo pode ser até que acorde um pouco e aquela coisa lá longe volte pra perto de mim e então eu vinha caminhando devagarinho as ameixas eu não conseguia parar de comer sabe já tinha comido acho que umas seis estava toda melada quando dobrei a esquina aqui da rua e ia saindo um caixão de defunto do sobrado amarelo na esquina certo acho que era um caixão cheio quer dizer com defunto dentro porque ia saindo e não entrando certo e foi bem na hora que eu dobrei não deu tempo de parar nem de desviar daí então eu tropecei no caixão e as ameixas todas caíram assim paf! na calçada e foi aí que eu reparei naquelas pessoas todas de preto e óculos escuros e lenços no nariz e uma porrada de coroas de flores devia ser um defunto muito rico certo e aquele carro fúnebre ali parado e só aí eu entendi que era um velório. Quer dizer, um enterro. O velório é antes, certo?
- É - confirmo. - O velório é antes.
- Ficou todo mundo parado, me olhando. Eu me abaixei e comecei a catar as ameixas na sarjeta. Eu não estava me importando que fosse um enterro e que tudo tivesse parado só por minha causa, certo? Apanhei uma por uma. Só depois que tinha guardado todas de volta no pacote é que as coisas começaram a se mexer de novo. Eu continuei vindo para cá, as pessoas continuaram carregando o caixão para o carro fúnebre. Mas primeiro ficou assim um minuto tudo parado, como uma fotografia, como quando você congela a cena no vídeo. Eu juntando as ameixas e aquelas pessoas todas ali paradas me olhando. Você está prestando atenção? Aquelas pessoas todas paradas me olhando e eu ali juntando as ameixas."

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Não se pode simplesmente abandonar aquilo que passou, como aquele resto de maçã podre. Fica um espaço vazio que nas noites e dias de chuva vai tragar-te para dentro. Lembranças vivas as quais pode se tocar com os dedos, vão além das fotos em sépia. Ficam guardadas na caixa. Os cheiros de cola, bolo de chocolate, maçã, perfumes, sonhos e sabão. Não era como deveria, mas pode ter sido até demais. Resta a ausência e algo que murmura querendo gritar, gritar gritar no súbito desejo de voltar . No entanto silencia nos movimentos progressivos da vida, esta na qual não para para perguntar: sentirás dor? Dormirás com sorrisos estampados no rosto? Simplesmente chega, vai, volta no mais tardar com outras caras e bocas. Não se repete.
Nessas idas e vindas ficam os lenços, um coração envenenado pelas circunstâncias (boas ou más), cicatrizes, algumas medalhas, as fotos e mais alguma coisa. O resto vai embora, é guardado, banhado a naftalina e permanece ali, vivo. Lembranças, ausências e saudades jamais dizem adeus. Apenas se escondem na alta velocidade dos acontecimentos, por muito se transformando em um filme de reprise real. Uma segunda pele invisível em meio ao tumulto.

Fecha-se os olhos. Volta-se. Mata-se, então, aquilo que quer gritar, mata-se a saudade, a ausência nem que seja na fantasia, no sonho íntimo. Chora-se. Quem sabe as lágrimas lavem e escorram no rosto trazendo o conforto e luzes as quais afugentem os fantasmas. Mas vive-os na flor da pele, pois estão sempre ali, já tornaram-se um pedaço do coração.Afim de encarar as novas feridas no dia que vai nascendo, respirando o novo cheiro da manhã - ainda virgem dos cheiros antigos. Libertando-se diante das novas esperanças. Tocando e reconhecendo a nova pele sobreposta a de ontem, enfim visível no silêncio do vazio próprio - a parte morta-viva: aquilo que foi, aquilo que é.
"O céu está no chão, não cai do alto, é claro, é escuridão"

sábado, 8 de agosto de 2009


Exorcizei-me. Tirei as teias de aranha e os mofados da parede do teleencéfalo (desconheço a forma ortográfica correta, essa nova regra ainda não me é totalmente familiar) e estudei (aleluiaamémSenhor).


Nessa tarde chuvosa, três considerações:


  • Ao tentar visitar o shopping Iguatemi e o Carrefur, ficar lá mais de 10 minutos parecia impossível fazer qualquer tipo de compras ou tomar um cafezinho. A aglomeração de pessoas era enorme, filas por todos os lados e a impossibilidade de caminhar sem ser empurrado pela massa. Até aí, nada mais normal em um sábado chuvoso. No entanto isso pareceu-me incoerente, falta de consciência (sim! De minha parte também), afinal milhares estão morrendo por causa da gripe A. E, também, porque isso torna a medida de recesso prolongado nas instituições escolares uma medida inútil, já que as chances de propagação da doença nestes locais são infimas também, lá nem 1000l de álcool gel resolveriam. Mais um "parenteses" não tinha alma viva com máscara cirurgica. AHAHAHA! VAMOS TODOS PEGAR E DEPOIS CORRER PARA COMPRAR TAMIFLU DOS CAMELÔS! TER AULA DOMINGO E SÁBADO PARA RECUPERAR A MATÉRIA DO PRÉ-VESTIBULAR!

  • Física é uma merda! Todos aqueles gráficos, continhas e contões. Situações problema. Vontade de queimar tudo, rasgar em mil pedaçinhos, arrancar os cabelos. Mas é necessário ter fé que um dia você vai entender os porquês! E todas aquelas coisas as parecem terem sido escritas em aramaico. Lembrando sempre que: a tendência é o equilíbrio térmico(Jackie e Rose no filme Titanic); tudo que sobe desce (óbvio); o sentido do campo elétrico não depende da carga de prova; g=10m/s2. E o caralho mais. Alguém a de convir comigo que fazer chover é muito mais fácil.

  • Adoro pintores impressionistas e não vale gastar seu dinheiro vendo o filme do Harry Potter. Veja o menino do pijama listrado ou madagascar 2, muito engraçado.


Dois avisos: Sandra, estou enviando-te algumas aulas que eu tenho gravadas. Segunda, a caixa do ROC está em tempo de passar para a próxima pessoa. Já usufrui dela o bastante.


Deixo a noite com um conto do C.F:

OS SOBREVIVENTES


Sri Lanka, quem sabe? ela me pergunta, morena e ferina, e eu respondo por que não? mas inabalável ela continua: você pode pelo menos mandar cartões-postais de lá, para que as pessoas pensem nossa, como é que ele foi parar em Sri Lanka, que cara louco esse, hein, e morram de saudade, não é isso que te importa? Uma certa saudade, e você em Sri Lanka, bancando o Rimbaud, que nem foi tão longe, para que todos lamentem ai como ele era bonzinho e nós não lhe demos a dose suficiente de atenção para que ficasse aqui entre nós, palmeiras & abacaxis. Sem parar, abana-se com a capa do disco de Ângela enquanto fuma sem parar e bebe sem parar sua vodca nacional sem gelo nem limão. Quanto a mim, a voz tão rouca, fico por aqui mesmo comparecendo a atos públicos, pichando muros contra usinas nucleares, em plena ressaca, um dia de monja, um dia de puta, um dia de Joplin, um dia de Teresa de Calcutá, um dia de merda enquanto seguro aquele maldito emprego de oito horas diárias para poder pagar essa poltrona de couro autêntico onde neste exato momento vossa reverendíssima assenta sua preciosa bunda e essa exótica mesinha-de-centro em junco indiano que apóia nossos fatigados pés descalços ao fim de mais outra semana de batalhas inúteis, fantasias escapistas, maus orgasmos e crediários atrasados. Mas tentamos tudo, eu digo, e ela diz que sim, claaaaaaaro, tentamos tudo, inclusive trept, porque tantos livros emprestados, tantos filmes vistos juntos, tantos pontos de vista sociopolíticos existenciais e bababá em comum só podiam era dar mesmo nisso: cama. Realmente tentamos, mas foi uma bosta Que foi que aconteceu, que foi meu deus que aconteceu, eu pensava depois acendendo um cigarro no outro e não queria lembrar, mas não me saía da cabeça o teu pau murcho e os bicos dos meus seios que nem sequer ficaram duros, pela primeira vez na vida, você disse, e eu acreditei, pela primeira vez na vida, eu disse, e não sei se você acreditou. Eu quero dizer que sim, que acreditei, mas ela não pára, tanto tesão mental espiritual moral existencial e nenhum físico, eu não queria aceitar que fosse isso: éramos diferentes, éramos melhores, éramos superiores, éramos escolhidos, éramos mais, éramos vagamente sagrados, mas no final das contas os bicos dos meus peitos não endureceram e o teu pau não levantou. Cultura demais mata o corpo da gente, cara, filmes demais, livros demais, palavras demais, só consegui te possuir me masturbando, tinha biblioteca de Alexandria separando nossos corpos, eu enfiava fundo o dedo na boceta noite após noite e pedia mete fundo, coração, explode junto comigo, me fode, depois virava de bruços e chorava no travesseiro, naquele tempo ainda tinha culpa nojo vergonha, mas agora tudo bem, o Relatório Hite liberou a punheta. Não que fosse amor de menos, você dizia depois, ao contrário, era amor demais, você acreditava mesmo nisso? naquele bar infecto onde costumávamos afogar nossas impotências em baldes de lirismo juvenil, imbecil, e eu disse não, meu bem, o que acontece é que como bons-intelectuais-pequeno-burgueses o teu negócio é homem e o meu é mulher, podíamos até formar um casal incrível, tipo aquela amante de Virginia Woolf, como era mesmo o nome da fanchona? Vita, isso, Vita Sackville-West e o veado do marido dela, ra não se erice, queridinho, não tenho nada contra veados não, me passa a vodca, o quê? e eu lá tenho grana para comprar wyborowas? não, não tenho nada contra lésbicas, não tenho nada contra decadentes em geral não tenho nada contra qualquer coisa que soe a uma tentativa. Eu peço um cigarro e ela me atira o maço na cara como quem joga um tijolo, ando angustiada demais, meu amigo, palavrinha antiga essa, a velha angst, saco, mas ando, ando, mais de duas décadas de convívio cotidiano, tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, ah não me venha com essas histórias de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, eu nunca tive porra de ideal nenhum, eu só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista elitista capitalista, eu só queria era ser feliz, cara, gorda, burra, alienada e completamente feliz. Podia ter dado certo entre a gente, ou não, eu nem sei o que é dar certo, mas naquele tempo você ainda não tinha se decidido a dar o rabo nem eu a lamber boceta, ai que gracinha nossos livrinhos de Marx, depois Marcuse, depois Reich, depois Castafieda, depois Laing embaixo do braço, aqueles sonhos tolos colonizados nas cabecinhas idiotas, bolsas na Sorbonne, chás com Simone e Jean-Paul nos 50 em Paris, 60 em Londres ouvindo here comes the sun here comes the sun little darling, 70 em Nova York dançando disco-music no Studio 54,80 a gente aqui mastigando esta coisa porca sem conseguir engolir nem cuspir fora nem esquecer esse azedo na boca. Já li tudo, cara, já tentei macrobiótica psicanálise drogas acupuntura suicídio ioga dança natação cooper astrologia patins marxismo candomblé boate gay ecologia, sobrou só esse nó no peito, agora faço o quê? não é plágio do Pessoa não, mas em cada canto do meu quarto tenho uma imagem de Buda, uma de mãe Oxum, outra de Jesusinho, um pôster de Freud, às vezes acendo vela, faço reza, queimo incenso, tomo banho de arruda, jogo sal grosso nos cantos, não te peço solução nenhuma, você vai curtir os seus nativos em Sri Lanka depois me manda um cartão-postal contando qualquer coisa como ontem à noite, na beira do rio, deve haver uma porra de rio por lá, um rio lodoso, cheio de juncos sombrios, mas ontem na beira do rio, sem planejar nada, de repente, sabe, por acaso, encontrei um rapaz de tez azeitonada e olhos oblíquos que. Hein? claro que deve haver alguma espécie de dignidade nisso tudo, a questão é onde, não nesta cidade escura, não neste planeta podre e pobre, dentro de mim? ora não me venhas com autoconhecimentos-redentores, já sei tudo de mim, tomei mais de cinqüenta ácidos, fiz seis anos de análise, já pirei de cl ín k., lembra? você me levava maçãs argentinas e fotonovelas italianas, Rossana Galli, Franco Andrei, Michela Roc, Sandro Moretti, eu te olhava entupida de mandrix e babava soluçando perdi minha alegria, anoiteci, roubaram minha esperança, enquanto você, solidário & positivo, apertava meu ombro com sua mão apesar de tudo viril repetindo reage, companheira, reage, a causa precisa dessa tua cabecinha privilegiada, teu potencial criativo, tua lucidez libertária e bababá bababá. As pessoas se transformavam em cadáveres decompostos à minha frente, minha pele era triste e suja, as noites não terminavam nunca, ninguém me tocava, mas eu reagi, despirei, voltei a isso que dizem que é o normal, e cadê a causa, meu, cadê a luta, cadê o po-ten-ci-al criativo? Mato, não mato, atordôo minha sede com sapatinhas do Ferro’s Bar ou encho a cara sozinha aos sábados esperando o telefone tocar, e nunca toca, neste apartamento que pago com o suor do po-ten-ci-al criativo da bunda que dou oito horas diárias para aquela multinacional fodida. Mas, eu quero dizer, e ela me corta mansa, claro que você não tem culpa, coração, caímos exatamente na mesma ratoeira, a única diferença é que você pensa que pode escapar, e eu quero chafurdar na dor deste ferro enfiado fundo na minha garganta seca que só umedece com vodca, me passa o cigarro, não, não estou desesperada, não mais do que sempre estive, nothing special, baby, não estou louca nem bêbada, estou é lúcida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma saída, ah não se preocupe, meu bem, depois que você sair tomo banho frio, leite quente com mel de eucalipto, gin-seng e lexotan, depois deito, depois durmo, depois acordo e passo uma semana a banchá e arroz integral, absolutamente santa, absolutamente pura, absolutamente limpa, depois tomo outro porre, cheiro cinco gramas, bato o carro numa esquina ou ligo para o cvv às quatro da madrugada e alugo a cabeça dum panaca qualquer choramingando coisas tipo preciso-tanto-uma-razão-para-viver-e-sei-que-essa-razão-só-está-dentro-de-mim-bababá-bababá e me lamurio até o sol pintar atrás daqueles edifícios sinistros, mas não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais autodestrutiva do que insistir sem fé nenhuma? Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia, ela pára e pede, preciso tanto tanto tanto, cara, eles não me permitiram ser a coisa boa que eu era, eu então estendo o braço e ela fica subitamente pequenina apertada contra meu peito, perguntando se está mesmo muito feia e meio puta e velha demais e completamente bêbada, eu não tinha estas marcas em volta dos olhos, eu não tinha estes vincos em torno da boca, eu não tinha este jeito de sapatão cansado, e eu repito que não, que nada, que ela está linda assim, desgrenhada e viva, ela pede que eu coloque uma música e escolho ao acaso o Noturno número dois em mi bemol de Chopin, eu quero deixá-la assim, dormindo no escuro sobre este sofá amarelo, ao lado das papoulas quase murchas, embalada pelo piano remoto como uma canção de ninar, mas ela se contrai violenta e pede que eu ponha Ângela outra vez, e eu viro o disco, amor meu grande amor, caminhamos tontos até o banheiro onde sustento sua cabeça para que vomite, e sem querer vomito junto, ao mesmo tempo, os dois abraçados, fragmentos azedos sobre as línguas misturadas, mas ela puxa a descarga e vai me empurrando para a sala, para a porta, pedindo que me vá, e me expulsa para o corredor repetindo não se esqueça então de me mandar aquele cartão de Sri Lanka, aquele rio lodoso, aquela tez azeitonada, que aconteça alguma coisa bem bonita com você, ela diz, te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez, que leve para longe da minha boca este gosto podre de fracasso, este travo de derrota sem nobreza, não tem jeito, companheiro, nos perdemos no meio da estrada e nunca tivemos mapa algum, ninguém dá mais carona e a noite já vem chegando. A chave gira na porta. Preciso me apoiar contra a parede para não cair. Por trás da madeira, misturada ao piano e à voz rouca de Ângela, nem que eu rastejasse até o Leblon, consigo ouvi-la repetindo e repetindo que tudo vai bem, tudo continua bem, tudo muito bem, tudo bem. Axé, axé, axé! eu digo e insisto até que o elevador chegue axé, axé, axé, odara.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Um pitaco da madrugada :D
Hoje eu tive um sonho, havia tempos eu não me lembrava de um sonho. Dormia sempre "como pedra", depois acordava para mais um dia. Contudo, hoje, foi diferente.
Vi os rostos com exatidão, até mesmo o da sua mãe. Ela havia emagrecido, estava sorridente. Tu ali sentada olhava o relógio de pulso, esperando o momento de entrar na sala. Ri baixinho, falando comigo mesma, coisas as quais só minha memória podia ouvir. Achei coincidência encontrarmo-nos naquele lugar, no mesmo curso. Tinha certeza, quando te via de longe tomaria um caminho oposto ao meu. Não tão perto, quase parecido.
Enxergou-me e sorriu. Por algum motivo que não sei (por todas as memórias, a boa educação que tua mãe deu-te, aparentar ser a fortaleza blindada pelos muros do orgulho, honestamente, ainda não sei). Sentei-me ao lado, fiz meu interrogatório. Não suportei meus nervos e disse:
- Acaso do destino, não?
Riu, a mesma risada de cinco anos atrás. Era ótima, nostalgica.
Olhei com olhos das experiências posteriores a partida, sei que ela também olhou. Era tarde demais para a segunda, terceira, quarta chance? Não importava-me mais com este fato do passado cicatrizado aberto. Eu, simplesmente, desejava conversar. Perguntar sobre os acasos, ver se ainda tínhamos algumas bandas de música em comum, se estava ali aquilo que tanto esperei reencontrar. Tudo isso e mais mais mais. Mas, o sinal da aula tocou.
Num movimento pegou os materiais, foi ouvir as teorias e práticas. Olhou-me, entretanto piscou mais devagar que de costume. O castanho ainda estava lá, todas as bandas de maçãs também. Guardados fundos, só eu via. Porque a canção da ruazinha ainda estava em mim e tudo mais mais mais mais.


Não sabia quem era Rimbaud. Sim, sou um ser ignorante. Você sabe? Foi um poeta simbolista (um movimento literário, também conhecido como neoromantismo) francês. E, por enquanto, isso basta.

Milhares de coisas ao mesmo tempo. Uma música. Um chá gelado na companhia dos patos, Madonna toca baixo. E eu esqueci aquilo que escreveria, fugiu-me. Má sorte.

Certa vez eu afirmei que vestibulandos não tiram férias. Inicialmente tinha certeza e a pura convicção disso, provei o contrário. Todos os meus planos de estudos foram por água baixo, só leio, escrevo e desenho – aquilo que quero, quando quero. Eu que prometi revoluções de posturas e foco nos objetivos mais grandiosos, observo com dúvida. E nesta fresta deixada por ela, entra ventos de estremecer e fazer tudo virar aos pedaços. Não desejo adotar a filosofia do “daqui não saio, daqui ninguém me tira”.

É tudo óbvio, puro ócio. A diferença resume-se (isso é possível?) em fazer o necessário, dedicar-se, tentar, mover as montanhas (hoje não pela culpa, mas pela ânsia de perseguir os sonhos).

Por enquanto deixo um desenho, minha tentativa de fazer as montanhas ficaram coloridas. O bobo ri e faz piada de tudo, mas em sua consciência mostra outra essência, somos todos assim. Na idade média se ele não agradace os rei e rainhas, morria na gilhotina. E eu, meu caro, não desejo morrer na gilhotina.

O dia está nublado, mas espero que a noite seja clara.