sexta-feira, 23 de abril de 2010

Estava fugindo. Confesso. Mas, ainda que tenha tempo sobrando e eu não culpe a falta de  'inspiração',  não  conseguia  fazer  algo do meu agrado, é assim, ao menos comigo, em quase todos os jeitos : desenho, trabalho, limpeza, aparência, prosas, etc. Neurótica, sim, é isso que sou. Isso reflete, refrata, metamorfiza, dramatiza e, obviamente, poetiza-me um pouco.
Desabafos a parte, estou sem chimarrão. A erva tristemente acabou em um final de tarde frio,  porém tenho uma garrafinha de água, um pedaço de maçã mordida. Ao menos um desenho teve seu fim (acima) e terminei de ler a Menina que não sabia Ler, de John Harding. Ótimo até a página 150, depois foi decaindo, por fim, acabando em um final cuja surpresa poderia ter sido maior. A menina transita entre o real e imaginário, loucura e sanidade, amor e obssessão, mas deixou a desejar, transformando um grande possível final em uma bobice razoável. Não era fantasma, era loucura mesmo, algo a la  Macbeth e, ela foi de irmã protetora a psicopata capaz de tudo - o autor pouco explorando essa transformação, a fim de manter o clima de suspense, algo como um filme de terror de seção da tarde.Mesmo assim: recomendo. Bom, esse fim de semana minha cunhada trará-me a saga do Crepúsculo. O que me aguarda? Estou louca  mesmo é para ler o novo livro da Isabel Allende: La isla bajo el mar, sem tradução ainda, que conta a história de Zarité, uma mulata que aos 9 anos foi vendida como escrava para o francês Vamorain, dono de uma das mais importantes plantações de açúcar da ilha de Santo Domingo. O romance conta 40 anos da vida de Zarité e mostra o que representou a exploração de escravos na ilha no século 18, suas condições de vida e como foi a luta pela liberdade.
Alice  estreiou, estou louca varida para ver em 3D, apesar das péssimas críticas lidas por mim, durante a semana, no entanto, será provavelmente fantástico e colorido (como eu gosto - a princípio). Até lá, nada digo.

- (texto sem título) - 

Desceu do carro antigo, as grandes avenidas (paralelas) eram atravessadas por outras menores, formando espaços para um pouco de tudo, deixando um aspecto de Jogo da Velha vivo sem "xizes", nem "bolinhas". Numa esquina, perto da parada que a levaria para casa, havia uma padaria simpática. O dia era claro e quente, porém, na manhã de outono, usava jaqueta e um lenço amarrado no pescoço, afinal a noite virada e o café com leite tomado as pressas às 7h da manhã, não foram o suficiente para tirar os incomodos do corpo, contudo  que sabia ter esquecido de como era possuir incomodos onde a carne não chega, só sofre consequências dos sentires inesplicáveis, imagináveis para quem não os sabe. Nem tudo podia ser como queria, mas, ao menos, que fosse bom, com um toque adocicado, até aí as revelações eram nulas . Então resolveu pedir um sonho, antes, como qualquer pessoa que tem o dinheiro contado, perguntou quanto era. Por R$:1,40 podia comer um sonho de mumu ou de creme.  Escolheu ambos (o de creme levaria para casa, comeria-o depois, na calamaria, quem sabe transformario-o em um agrado a quem entendesse).
Por fim, o sonho virou pesadelo. Era quase oco, uma massa doce, sem recheio algum. Todas esperanças depositadas, ruíram na primeira mordida, quando não se viu só cara, mas, sim, coração. Importou-se apenas no início, depois o envolveu em papel de padaria. Decidiria depois o destino do sonho oco. No relógio da parede: 8h. Os olhos piscavam devagar. A distância até a parada: um atravessar correndo de rua. Foi-se, respirou os ares poluídos de uma Segunda - Feira que nada prometia, foi sugada até o último, por risadas, mentolados não tragados, socializações não forçadas (claramente bem sucedidas), sendo chamada de louca, por uma minoria de um, era apenas a sua neurose. Inspirou, expirou, sentindo-se viva. Aproveitando um sinal vermelho, sem deixar de reparar as luzes verdes, as quais agora via, quando encostada num poste, via a cidade acordar, outros saírem para labutar, rodar alguma bolsa, passear. Ela, simplesmente, iria para casa. 
Na parada, o fluxo trazia todos os tipos de ônibus (de ida, quanto de volta) e pessoas. Viu as diferenças costumeiras entre um ser e outro, comprovando através do chão o quanto a "porquice" era grande e o número de fumantes também, por consequência: as espumas flutuantes de fumaça. Coisas que só ela dava bola, mas retornos e percepções de forma igual são meras ilusões. A diferença a colocaria em uma posição favorável ou não, assim como as questões dos incomodos corporais, só que essa jamais haveria de passar, ao contrário: agravaria-se, pois jamais conseguria viver só e achar alguém igual seria aceitar a derrota de que não entendia a verdade: nunca seria completa na igualdade e que criar outro contexto oco perfeito não a satisfaria por muito tempo, logo a cansaria.
O letreiro brilhante não mentia. Um aceno de dedos, logo depois arrumou o lenço. Sonolenta, derretendo, porque o calor começava a derrete-la. Salva no acento estofado forrado com courino, ouvia "Come Together" e qualquer música  mentalmente, como sempre fazia, ajudava a passar o tempo, enquanto as nuvens corriam depressa pelos quilometros da locomotiva de rodas. Quando chegou ao seu destino, elas tomaram sua velocidade normal, devagares, tal qual seus passos.

Tinha pressa, portanto ia desviando de tudo, já sabia o caminho de olhos fechados. Sabia? Não. Naquele dia, isso não foi o bastante. Caiu. Sujando as calças de terra seca, ralando as mãos. Sentou na terra, envergonhada até o pescoço pelo tombo. Um qualquer de bicicleta diminuiu sua velocidade e, na melhor das hipóteses, foi uma alma boa que desejava ver se ela precisava de ajuda. Levantou-se rápido, ao vislumbrar a bondade aparente do ciclista. Levantaria-se com suas próprias pernas e mãos cortadas, sem outros incômodos invisíveis ao corpo. - pensou. Nada mais do que outra sina dos orgulhosos.
Quase correu até chegar ao seu portão. Entrou. Afagou seus cachorros. Disse bom dia. Beliscou uma banana. Deu de agrado os sonhos e sorrisos. Confessou algumas aventuras de um tombo lindo. Sentiu-se viva, completa na autossuficiência. Tinha tudo que precisava ali, menos creme para sonhos. E, no seu cansaço atrofiado, sentou na beira de um degrau de porta, olhando o céu do chão (jamais cairia), sem fome, machucada superficialmente, em uma posição favorável, trazida por conhecimentos incompletos de uns rumos quase certos ou óbvios.  Por enquanto, a única coisa que podia dizer: precisava ser livre.

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