quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

DELÍCIA DE PÃO DE QUEIJO COM UMA COBERTURA SURPRISE COM CARAMELO

VETERANOS E BIXOS 2011/1

CABELO LINDO PARA RESPONDER O QUESTIONÁRIO.
Sentei na cadeira, resolvi crias algumas raízes, para não sair daqui antes que a impaciência de uma falta de criatividade ou de algum pedaço de texto afugentasse-me e, pessoa alguma (in)conscientemente distraísse-me. Torço para essas coisas não acontecerem antes do último ponto final e que as paciências não se percam nesses caminhos de introduções. 

Escutei um tango improvisado tocar, olhei pela janela do ônibus (naquele tempo era setembro): um senhor de barba branca por fazer, boina e sapatos marrons, com um copo de cerveja choca junto a ele, uma simples, porém inútil decoração, comparado às luzes baixas e avermelhadas do bar. Enquanto eu seguia (senti vontade de pedir um tango de Gardel), distanciava-me. E, por fim, ele ficou para trás. Um vulto de comprovação da felicidade em uma música improvisada, bebida choca e mesinhas de plástico vermelhas.
Passei os dedos pela boca, antigo hábito de quem roía as unhas, até ficar apenas com as pontas encostando no lábios. Meus olhos não conseguiam descansar, piscam devagar, era como se absorvessem todas as coisas da volta: alguns semáforos, ora verdes ora vermelho, quase nunca amarelos; pessoas de vida como a minha  - as quais descem e sobem ruas, dormem em realidade e se machucam no sonho, ou vivos, ou fingindo viver num universo paralelo próprio caído na desgraça de parecer todos os dias iguais.  Meus olhos iam virando caleidoscópio, cada vez mais, e eu continuava indo, indo, cada vez mais para perto de casa.
Os minutos, as pessoas passaram e fizeram tudo aquilo no qual pessoas fazem nos ônibus. Puxaram a cordinha, como eu, sentiam frio, como eu, estranheza dos bafos quentes que viravam fumaça no inverno, se olhavam no espelho, mas eles não eram eu. Alguns são melhores, alguns não dão bola, outros muito piores, alguns nem valem qualquer citação. Eu era. De repente não era mais. Agora era tarde demais para filosofia barata, eu deixava para trás a cordinha, o dia, o tango, e um pouquinho da sola do meu sapato pelo chão, tanto fazia, era caleidoscopia dos olhos se espalhando pelos dedos, pelos cílios, pelos, unhas carmim, cabelos, pelo isqueiro acendido por mim na cozinha horas mais tarde. Cheguei aos momentos finais de conclusões de vai ou racha, outra coisa de cotidiano, pois: ou tu deixas vir, o que quer que seja, abrindo os braços mais e mais, para que caiba tudo: do antes, do agora e do depois ou te fechas com os braços em x, porque não caberá nada além dos ombros e, os pesos, por eles carregados.
Eu decidi. 
Abri os olhos, os braços, os meus corações e cada parte da minha carne e alma, tudo corroía minhas veias.  Era tão simples. Recebi tudo que me faltava, fiquei até com muito a mais. Permiti, porque se não for intenso e vivo, uma chama no meio da minha carcaça de racionalidades, não é nada.  Nada.


Um livro que li recentemente, deixo um trecho (achei ótimo, ri demais). 

 
Preâmbulo às instruções para dar corda no relógio
Pense nisto: quando dão a você de presente um relógio estão dando um pequeno inferno enfeitado, uma corrente de rosas, um calabouço de ar. Não dão somente o relógio, muitas felicidades e esperamos que dure porque é de boa marca, suíço com âncora de rubis; não dão de presente somente esse miúdo quebra-pedras que você atará ao pulso e levará a passear. Dão a você — eles não sabem, o terrível é que não sabem — dão a você um novo pedaço frágil e precário de você mesmo, algo que lhe pertence mas não é seu corpo, que deve ser atado a seu corpo com sua correia como um bracinho desesperado pendurado a seu pulso. Dão a necessidade de dar corda todos os dias, a obrigação de dar-lhe corda para que continue sendo um relógio; dão a obsessão de olhar a hora certa nas vitrines das joalherias, na notícia do rádio, no serviço telefônico. Dão o medo de perdê-lo, de que seja roubado, de que possa cair no chão e se quebrar. Dão sua marca e a certeza de que é uma marca melhor do que as outras, dão o costume de comparar seu relógio aos outros relógios. Não dão um relógio, o presente é você, é a você que oferecem para o aniversário do relógio.
Instruções para dar corda no relógio
Lá no fundo está a morte, mas não tenha medo. Segure o relógio com uma mão, pegue com dois dedos o pino da corda, puxe-o suavemente. Agora se abre outro prazo, as árvores soltam suas folhas, os barcos correm regata, o tempo como um leque vai se enchendo de si mesmo e dele brotam o ar, as brisas da terra, a sombra de uma mulher, o perfume do pão.
Que mais quer, que mais quer? Amarre-o depressa a seu pulso, deixe-o
bater em liberdade, imite-o anelante. O medo enferruja as âncoras, cada coisa que
pôde ser alcançada e foi esquecida começa a corroer as veias do relógio, gangrenando o frio sangue de seus pequenos rubis. E lá no fundo está a morte se não corremos, e chegamos antes e compreendemos que já não tem importância.
- Julio Cortázar - Histórias de Cronópios e de famas. (Manual de Instruções)




domingo, 30 de janeiro de 2011

quinta-feira, 22 de julho de 2010

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Escrevo aqui e agora, sem os rascunhos em folhas de papel que costumo fazer, porque hoje já não é mais mês de Maio, é final de Junho e, eu ainda tenho entalado na garganta muito. Muito de tudo, muito de mim, muito de ti, muito de nada que, como planta ácida carnívora: me corroí, me devora, me destrói aos poucos, até o meu avesso chega a sentir, mesmo diante do entorpecente. Muito da alegria, cordas vocais roucas de tanto  berrar canções quaisquer, muito de amizade, ainda sim, continuo efervescendo, corroída. Embora não seja dessa vez que me consumo por inteiro, virar cinzas e voar ao sabor do vento. Eu não me permito. Nessa carnificina, posso sair inteira, embora maçada, sem voz e uma consciência desnorteada pelas palavras gritadas aos ventos, aos avessos, aos passados, aos fantasmas dos meus presentes imaginários e alucinações dos sentimentos criados por serem mais intensos. Eu só queria não ter que olhar no espelho todo o dia, então dar de cara com toda a mesquinharia, sabotagens instantâneas, sorrisos amarelos e disfarces de quem, faz muitos tempos, se perdeu no meio do caminho do avesso que não é mais o seu, nem bate no próprio céu. De me pegar engolindo qualquer coisa rápida, sem mastigar, ir dormir pedindo um sono sem sonhos, tendo medo do ridículo, contentando com o óbvio e coisas iguais. Não posso. Nem quero, mas isso, acredite, foi mais instintivo do que qualquer coisa, como nadar no mar - sem cuidado, num acidente de azar ou na revolta dele: as ondas tragam-te para dentro da ressaca, o olho fica cheio de maresia, enquanto o sal resseca o resto, tudo menos os olhos cheios de maresia, neblina densa, aparentemente, ela predestina um temporal de qualquer cor ou nome, arrasador, fodido e, eu continuava me afogando em água e maresia. Tudo isso até passar o temporal. Então, veio o mar remexido, cor de chocolate quente e o céu de brigadeiro, me dei conta: nesse mar revoltoso, tudo era contrário. Chocolate e brigadeiro, para mim, sempre foram doces. Eles viram azedos na  língua. E eu queria mar e céu azul tolamente, afinal o boicote é fácil. descobrir esses tons terrosos de marrom, em meio aos pretos,brancos e azulados, modificaram todas as percepções de feio e belo, bom e ruim: é só ver diante de qualquer espelho ou água fria que me permitisse sentir minhas duas pernas, meus olhos, meus braços, meu cérebro intacto e todos os meus dedos, minha vida sete palmos acima e não abaixo da terra. Permito-me nadar contra a maré, jamais ser puxada para dentro e lá ficar, afogada no fundo do mar particular. Dos resultados disso: um respirar forte, ofegante, barulhento. Intenso.
Que minha própria planta carnívora dê fim a esse resto, com tudo mais que eu não quero. Mas que deixe esse amargo guardado na intensidade com que nado contra essa maré própria, porque não posso, nem por muito nem pouco, esquecer disso: desses olhos cheios de maresia, apatias de azul autosabótico corroído, que não é mais Maio, é final de Junho, dia 28, é hoje, posso não ser mais inteira nem se me verem pelos lados contrários, contudo sou tom de terra - sempre -  em meio ao mar, qualquer mar. Até mesmo o meu mar. E nesse oceano, eu não me permito mais afundar.

domingo, 20 de junho de 2010