segunda-feira, 28 de junho de 2010

Escrevo aqui e agora, sem os rascunhos em folhas de papel que costumo fazer, porque hoje já não é mais mês de Maio, é final de Junho e, eu ainda tenho entalado na garganta muito. Muito de tudo, muito de mim, muito de ti, muito de nada que, como planta ácida carnívora: me corroí, me devora, me destrói aos poucos, até o meu avesso chega a sentir, mesmo diante do entorpecente. Muito da alegria, cordas vocais roucas de tanto  berrar canções quaisquer, muito de amizade, ainda sim, continuo efervescendo, corroída. Embora não seja dessa vez que me consumo por inteiro, virar cinzas e voar ao sabor do vento. Eu não me permito. Nessa carnificina, posso sair inteira, embora maçada, sem voz e uma consciência desnorteada pelas palavras gritadas aos ventos, aos avessos, aos passados, aos fantasmas dos meus presentes imaginários e alucinações dos sentimentos criados por serem mais intensos. Eu só queria não ter que olhar no espelho todo o dia, então dar de cara com toda a mesquinharia, sabotagens instantâneas, sorrisos amarelos e disfarces de quem, faz muitos tempos, se perdeu no meio do caminho do avesso que não é mais o seu, nem bate no próprio céu. De me pegar engolindo qualquer coisa rápida, sem mastigar, ir dormir pedindo um sono sem sonhos, tendo medo do ridículo, contentando com o óbvio e coisas iguais. Não posso. Nem quero, mas isso, acredite, foi mais instintivo do que qualquer coisa, como nadar no mar - sem cuidado, num acidente de azar ou na revolta dele: as ondas tragam-te para dentro da ressaca, o olho fica cheio de maresia, enquanto o sal resseca o resto, tudo menos os olhos cheios de maresia, neblina densa, aparentemente, ela predestina um temporal de qualquer cor ou nome, arrasador, fodido e, eu continuava me afogando em água e maresia. Tudo isso até passar o temporal. Então, veio o mar remexido, cor de chocolate quente e o céu de brigadeiro, me dei conta: nesse mar revoltoso, tudo era contrário. Chocolate e brigadeiro, para mim, sempre foram doces. Eles viram azedos na  língua. E eu queria mar e céu azul tolamente, afinal o boicote é fácil. descobrir esses tons terrosos de marrom, em meio aos pretos,brancos e azulados, modificaram todas as percepções de feio e belo, bom e ruim: é só ver diante de qualquer espelho ou água fria que me permitisse sentir minhas duas pernas, meus olhos, meus braços, meu cérebro intacto e todos os meus dedos, minha vida sete palmos acima e não abaixo da terra. Permito-me nadar contra a maré, jamais ser puxada para dentro e lá ficar, afogada no fundo do mar particular. Dos resultados disso: um respirar forte, ofegante, barulhento. Intenso.
Que minha própria planta carnívora dê fim a esse resto, com tudo mais que eu não quero. Mas que deixe esse amargo guardado na intensidade com que nado contra essa maré própria, porque não posso, nem por muito nem pouco, esquecer disso: desses olhos cheios de maresia, apatias de azul autosabótico corroído, que não é mais Maio, é final de Junho, dia 28, é hoje, posso não ser mais inteira nem se me verem pelos lados contrários, contudo sou tom de terra - sempre -  em meio ao mar, qualquer mar. Até mesmo o meu mar. E nesse oceano, eu não me permito mais afundar.

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