sábado, 8 de maio de 2010

Prefácio

- Para Maíra 

Não foi Capitu, Kiefer, Caio, Clarice ou Diadorim, muito menos Eva. é o que é, ou fora, o  que viria a ser, aquilo que queria. Mas, como qualquer mortal de sangue quente, trazia de arrasto e vontades próprias: os sete pecados, seus gênesis, êxodos e apocalipses, sem contar a mordida de maçã que não lhe fora nem fantasia, viera de herança. Tudo isso em seu marco zero, por toda a vida, não impediram que seguisse, pelo dilúvio, chuvisco ou deserto, tanto fazia, pois enquanto os dados ainda rolarem, não há derrotado.
Se fosse fácil,a intensidade estaria perdida. A realidade crua e nua exige isso e não só o perfeito – na escuridão todos os gatos são pardos – cedo ou tarde, as máscaras fazem barulho, quando caem. Simples é mostrar todos os dentes como um sorriso torto, afinal  basta concentrar os músculos da face. O difícil são olhos, não a serpente. A antiga casca oca se partiu tantas vezes, deixando cacos pelo caminho. Eles cortaram (contudo  foram sendo levados, aos poucos, pelas lágrimas, derrotas amargas, pelos amores, pelos pés, pelo luto dos que partiram e continuaram em vida e pelos que se foram de vez)  deixando marcas, vistas todos os dias perante um espelho qualquer, mas só para ela. Porque demonstrar fraqueza é demais, já que os dados rolam. Esqueça a maçã, esta também se perdeu, seu peso é leve, diante de tudo que veio, tudo que vai.
Enquanto o vento bate no rosto, esvoaçando seus cabelos negros, a maquiagem dela cobre as olheiras, um sorriso de escárnio macula o rosto sereno, uma trilha sonora  imaginária cria-se, enquanto recita um trecho de um poema para si mesma: Não tirei bilhete para a vida, errei a porta do sentimento, não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse. Hoje não me resta, em vésperas de viagem, com a mala aberta esperando a arrumação adiada, sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem, hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado) senão saber isto: Grandes são os desertos, e tudo é deserto”, continua nua, crua, verdadeira em um mistério íntimo, no meio do contraste. Ela, Maíra: Muito mais do que aparenta e um dia pensou em ser.

  

Um comentário:

  1. Bacana o blog!
    Gostei do modo como usa as palavras!
    Continue assim!
    besos!

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