quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

As verdes luzes, não de pedra, que antes não via.

As esferas da rua iluminavam-se, trocando suas cores primárias, exceto uma. Saíam pessoas por todos os lados, alguns carregavam sacolas lotadas de produtos industrializados (os quais nem se consegue mencionar os componentes), outros abstraíam-se. Eu permanecia em pé, na minha frente: uma criança de órbitas de avelã, uma flor no reino das pedras. O barulho da cordinha tornou-se audível, acendeu-se a luz vermelha. Desci, eu e mais outros tantos, caminhavamos, perfeitamente doutrinados.
O cheiro de churrasquinho emanava, sentia todos os barulhos, os quais pesavam o ar. Os instintos excitados pelo dia anterior. Um grito de dor em meio ao caos, era um cachorro que acabara de receber um ponta pé. Levantei a cabeça, mais tristeza do que indignação. Onde vamos parar? Se nas aparências coração nenhum mais bate, todos comprados pelas aparências reluzentes, idolatradores de metais e sucatas que correm; enquanto, a vida morre.  Mas diante dele show de horrores, calei-me, mesmo diante da revolta engolida (não sentia gosto algum). A terceira esfera ficou verde, um desafio às outras cores primárias: o vermelho e amarelo.  Novamente, mais uma flor em meio às pedras.
Continuei lendo Garcia Marquez, um falso efeito placebo em meio ao tumulto, esperando uma daquelas sucatas caminhantes. Ouvindo conversas disconexas, um verdadeiro precipício entre a ficção da menina que enlouquecia pela raiva (no livro) e as bizarrices daquelas pessoas, aparentemente tão tolas na sua selvageria, era culpadas pelas sua condição? A vida deu-lhes opção? Ou tola eu?
Outro sinal verde, vermelho, verde, amarelo... Ventava, um sinal sem jeito, o ônibus parou. Respirei alíviada, acabara o show - naquele instante. Meus olhos precipitaram, era salgado. Água imprópria para flores, na ficção a menina coxa entreva para a ala das enterradas vivas, eu ali, observada como algo contagioso no meio da epidemia de insensibilidade, difarçava, escondendo-me no meio das letras e da capa roxa. Fungei, lembrou-me os escarros de minutos atrás, levantei a cabeça. Observei tudo, parecendo que eu não via nada, só meu deserto.Calei-me, para ver de verdade, os verdes que antes não via.
Desci, caminhei alguns metros. Chegando rápido ao meu destinho, sendo favorecida pelas luzes verdes.  No recinto: um copo plástico, café quente. Estava atrasada e arrasada. Que cara é essa? - perguntou-me os olhos azuis.
- Nada. Só cansaço.
- Senta aí! E abre o livro, recém começamos. Como foi o fim de semana?
- Ótimo, bastante revelador por sinal.
Olhos azuis riram.  Sorri de canto de boca, fingindo prestar atenção nas letras, as quais no momento não me serviam de abrigo. Respirei fundo, aparentando ser uma fortaleza sustentada em pântano.
Será que eu estava virando pedra?  

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