quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Palavras clichês, remodelação dos clássicos, vanguarda: minha garganta não está fechada.



Por que Duchamp? Não é apenas porque a obra dele é "legal", é muito mais do que isso. Ele, assim como muitos outros vanguardistas da época, desafiou os padrões estéticos, os ideais de belo no início do século XX, não possuía apenas talento, ele ia além: CONTESTAVA. Não através de panelaços, lançamentos de tomates a governadora ou greve. Por meio da arte, quebrou as correntes dos pré-moldados métodos. A obra pode parecer absurda, mas não é um direito expressar-se, transgredir os pensamentos e ter liberdade para isso, por mais absurdo que as ideias pareçam?

É um direito, uma obrigação, não se subordinar a tudo (desde a vulgaridade da TV; ao mau tratamento recebido em qualquer instituição; a corrupção política, etc), ou seja, não se calar diante da sensação de "não vai dar nada", onde os maiores pisam nos menores, nessa selva de pedra - de merda - a qual se vive. Deixando as gargantas fechadas pelo medo, ficando então simplesmente dominado por um sistema cujas diretrizes são bonitas apenas no papel.

Todas essas palavras, repetidas inúmeras vezes, hoje são praticamente decoradas, mas pior que servem! Continuarão sempre servindo (é assim desde as primeiras revoltas conhecidas, nas primeiras revoluções efetivas as quais gritava-se por igualdade, educação, justiça e o caralho). Onde estão os gritos, onde estão os clichês que no momento têm utilidade de "pretinho básico"? Tapam-se os olhos, as bocas, os ouvidos. Cegos, mudos, surdos, nem ao menos vegetais - afinal, vegetais possuem sua utilidade no ecossistema.

Abrir os olhos, ouvidos e a boca. Abrir os horizontes, respeitando quem deseja falar, não fazendo piada de quem ao menos tenta, mesmo sem fundamento ou argumento consistente, transformar o ambiente que vive. Pois, para isso é necessário coragem, misturada com inconformismo, expressão e liberdade, a fim de se gerar ação. Esse é o início da revolução, das transformações: de dentro para fora.

DEPOIS DE TUDO ISSO, POR ENQUANTO, ME CALO!

"se antes de cada ato nosso nos puséssemos a prever todas as conseqüências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar. Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, inclusive aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratular-nos ou pedir perdão, aliás, há quem diga que isso é que é a imortalidade de que se tanto fala." - José Saramago.





Um comentário:

  1. Muito bom seu texto, uma boa crítica ao conformismo cultural e aceitação do banal. Para fazer a diferença é preciso fazer diferente!

    Já está na minha lista de blogs "Outras Frequências"...

    Grande abraço

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